Bruno Quaresma e Gabriel Saraceni - 26/09/2012 - 08:17 São Paulo (SP)
Ney Franco poderia estar um consultório, cuidando dos dentes de seus pacientes. Mas uma decisão tomada em 1987 fez com que o rumo de sua vida mudasse totalmente e, nesta quarta-feira, ele está em Loja, no Equador, para comandar o São Paulo em busca do título inédito da Copa Sul-Americana.
O treinador prestou vestibular para odontologia, mas não foi aprovado. No ano seguinte, em meio a testes para entrar em equipes juniores, descobriu que queria seguir pela área esportiva. Aprovado em educação física na Universidade Federal de Viçosa deu os primeiros passos para iniciar uma carreira com passagens vitoriosas por Ipatinga, Flamengo, Coritiba e Seleção Brasileira.
Em uma entrevista de quase 45 minutos, o técnico contou ao LANCENET! um pouco de sua formação e curiosidades sobre seu jeito de ser e a vida particular. Qual era a matéria que tirava o sono de Ney Franco na faculdade? O que ele gosta de fazer durante os momentos de folga? O que ele gosta de assistir na televisão quando não revendo os jogos de seu time? A seguir, conheça um pouco mais do homem que está há pouco mais de dois meses dirigindo o Tricolor e tem a missão de levar o clube de volta para a Libertadores.
Em pouco mais de dois meses de São Paulo, já se adaptou ao clube e à cidade?
A adaptação está ótima. Estou totalmente interagido no clube. Em relação à cidade, estou morando sozinho, sem minha família, aqui no CT. Então não estou tendo nenhum problema em relação à transito, moradia, vida social na cidade. Eu estou respirando o CT, o Morumbi, aeroporto e viagens, mas totalmente adaptado à rotina aqui do clube do São Paulo.
Você lê, assiste e escuta tudo que falam sobre você?
Leio quando estou ganhando. Leio tudo, escuto tudo, vejo tudo, mas quando estou na fase ruim não vejo nada e leio nada. Nessa hora, eu prefiro não ver nada, embora tenha algumas críticas construtivas, mas a maioria é em cima do resultado de momento. Então, eu prefiro direcionar minha mente para outras coisas.
Mas não acha que algumas críticas podem ajudá-lo?
Podem ajudar sim. Mas essas críticas construtivas, eu normalmente sei delas quando vou dar uma entrevista, depois de um jogo ou do treinamento. A gente sabe perceber direitinho. Na realidade, eu tenho um posicionamento muito claro sobre isso. Eu tenho um caminho de trabalhar, uma forma e aposto nisso. Logicamente a maioria do feedback de alguns erros, vem da comissão, dos números dos atletas e da própria conversa com eles. Logicamente que é cima disso que eu me pauto. Então, em alguns momentos é interessante você assistir ou ler algumas coisas de outras áreas. Como você trabalha a sua imagem? Parece não ter muita vaidade e se preocupar com isso... Eu tenho a minha metodologia de trabalho, a minha forma de ser. Não adianta eu querer inventar outra forma de ser. A minha metodologia de trabalho é mais vitoriosa do que perdedora. Não tenho nenhum trabalho específico, nenhuma empresa que gerencia minha imagem. Eu tenho uma forma de conduta que ela não vai sair desse padrão, porque se sair não vai dar certo e eu estaria interpretando um personagem. A minha imagem é isso aí e não vai sair disso.
De onde você trouxe a sua metodologia de trabalho?
Vem um pouquinho da prática. Eu trabalhei 13 anos de categoria de base. Dez anos como treinador, três como preparador físico. Nesses 10 anos, aliado ao que eu aprendi dentro da universidade com o curso de educação física, acho que se somar tudo isso, eu criei uma metodologia de trabalho que é mais vencedora do que perdedora, e isso me dá auto-confiança para desenvolver meus projetos. Logicamente, não foram só vitórias, tiveram algumas derrotas também e essas derrotas você tem de saber tirar proveito. Mas não adianta ficar mudando toda hora a forma de trabalho e eu acredito que vamos ter sucesso com ela aqui também aqui no São Paulo. Qual o grande diferencial que trouxe da faculdade, em relação aos que não tiveram formação? Do embasamento teórico até a psicologia. Dentro da parte esportiva, na escola você tem três níveis de futebol. Você estuda todos os sistemas de jogo, a evolução do futebol mundial, isso vai te dando um embasamento teórico do futeobl. Depois você vai para a área de planejamento esportivo. Como é feita uma pré-temporada, como é o período de competição, como é o período de recuperação desses atletas. Tudo vira embasamento que você vai criando a sua metodologia de trabalho. Depois você vai para a parte prática e vai vendo o que vai dando certo, o que é teórico e o que te ajuda.
Além do futebol, na faculdade tinham diversas outras matérias. Quais que você não gostava?
Ginástica olímpica que era pesada (riso). Você tinha que fazer uma parte prática e eu me lembro que tinha de fazer argola e saltar sobre o cavalo era um tormento para a gente que não tinha prática nenhuma. Eu falo que sempre fui um aluno mediano porque tem algumas matérias como a natação e a ginástica, que passava no limite. No futebol eu era sempre A, mas tem algumas matérias que eu estava ali entre o C e o B, fazia o básico para passar. Tentou ser jogador? Eu tentei. Como qualquer adolescente, sonhava em ser jogador de futebol. Na minha cidade (Juiz de Fora), no futebol amador, eu tinha um certo destaque como volante. Isso me deu um pouquinho de noção e visão de como é comportamento do jogador em campo. Cheguei a fazer testes. Estava fazendo testes nos juniores do Tupi com 19 para 20 anos, mas chegou um determinado momento, que eu tive de decidir se iria ser jogador ou estudar, optei por estudar. No time da faculdade, dei continuidade.
O que você mais gosta de fazer quando está de férias ou folga?
Eu gosto mais de ficar com os filhos e curtir. No final do ano, a gente está planejando de ficar em um resort. Meu hobby maior é música mesmo. Não sou de pescar, eu sou mais urbano, gosto de ficar na cidade. Mesmo morando no Rio, vou pouco à praia. Quando vou, é pelas crianças. Tem uma noção de quantos jogos você assiste por semana? Vejo muitos do Campeonato Brasileiro. Série A e Série B. Quando não estou vendo ao vivo, tenho algo gravado e gosto muito de rever nosso jogo. Eu vejo completo e depois alguns lances específicos. Isso requer muito tempo.
Você, que viajou pelo mundo, acha que o Brasil está preparado para sediar a Copa do Mundo?
Acho que em relação a estádios, não teremos muito problemas. Agora em relação ao transportes, como chegar nos estádios, não sei. Uma coisa para mim é muito clara, nossos aeroportos estão muito aquém e estamos perdendo uma grande oportunidade. Se a Copa do Mundo serviria para mexer com isso, está passando batido.
Como foi a experiência de trabalhar na CBF, um local onde muitos dizem que há muita sujeira?
Foi uma experiência excelente. Minhha vida na CBF foi muito intensa, quando cheguei em dezembro de 2010 para preparar uma equipe para o Sul-Americano em janeiro, que era um pré-olímpico. Então já cheguei na CBF lá na Granja Comary, fazendo convocações, totalmente isolado da vida política. Eu nem entrava e nem fazia questão de entrar, porque meu objetivo maior era classificar o Brasil para as Olimpíadas e fui contratado para isso. Eu não vivi muito a parte política da CBF, não sabia o que estava acontecendo, estava envolvido com a parte prática. Quando acabou o Mundial, aí teve uma discussão do Pan-Americano, que foi o grande insucesso que passei no período da CBF. A CBF decidiu disputar um Pan-Americano com a sub-17. Com a sub-17, eu falei que não iria como treinador. Aí definiram levar uma sub-20, e a competição era sub-23. Foi o sub-20, mas eu não poderia convocar os jogadores que estavam atuando pelos times para não atrapalhar, tive de levar uma equipe de última hora, com jogadores que não conhecíamos muito bem e foi um fiasco. Mas acho que foi uma passagem muito positiva em relação a títulos. Acho que foi uma Seleção sub-20 que realmente deu retorno para a principal, acho que deixamos a nossa marca.
Ufologia, Marte e arqueologia agradam |
Ney Franco não gosta de respirar futebol 24 horas por dia. Em meio à rotina, o treinador tem seus momentos de descanso e procura dois tipos de programação alternativas na televisão. A primeira opção é a música, com canais que exibem shows. Mas ele também gosta de se entreter com outro tipo de programa: – Eu gosto muito da área musical, de ver algum show. Assim como na área do futebol você tem muitos canais, você também tem muitos shows à disposição na televisão fechada. Eu gosto muito do Discovery (canal em TV fechada). Assistir algumas coisas de antiguidade, alguma matéria de arqueologia, documentários e coisas futuristas. Uma espaçonave, alguma coisa que está chegando no Planeta Marte, coisas futuras e em relação à ufologia. A gente viaja um pouquinho nisso aí também. Questionado se acreditava na teoria do povo maia, que dizia que o mundo acabaria em 2012, o comandante brincou com a situação. – Nessa, eu não acredito muito não. Embora estamos em setembro ainda e até dezembro tudo pode acontecer, né? (risos) Mas eu gosto muito desse tipo de assunto, principalmente dos documentários – declarou o estudioso treinador. |