terça-feira, 19 de março de 2013

Especialistas alertam técnicos 'gritões' sobre riscos do exagero para a saúde

Não é raro ver os treinadores de futebol chegarem às entrevistas coletivas roucos ou até sem voz e nem sempre a culpa é de um resfriado, como aconteceu recentemente com Luiz Felipe Scolari, que sentiu os efeitos da queda da temperatura na viagem para a Europa com a seleção brasileira. Muitas vezes, Felipão e outros técnicos ficam assim de tanto gritar à beira do gramado, o que é um risco para a saúde (assista ao vídeo).

Na ocasião, antes do amistoso com a Inglaterra, os gritos do treinador durante o treino contribuíram para que a situação se agravasse. Em dia de jogo, o esforço é ainda maior, considerando que o barulho da torcida faz com que os técnicos tenham que falar ainda mais alto, o que acaba sendo uma agressão às cordas vocais, como explica a fonoaudióloga Déborah Feijó.

- O que vai acontecer é que a gente vai ter um desgaste na própria corda vocal que pode causar um edema ou alguma outra alteração, causando uma mudança na voz fazendo com que eu fique popularmente rouco - disse.

O técnico Estevam Soares, que já comandou clubes como Portuguesa e Botafogo, conhece muito bem estas consequêcias. 

- Há alguns anos que venho enfrentando esse problema, um problema muito sério. Já frequentei otorrino (otorrinolaringologista), fonoaudiólogos e sofro muito. Com qualquer esforço mais elevado eu perco a voz. Não me poupo e esse que é o grande problema - disse o treinador, que deixou o Atlético Sorocabense em fevereiro.

grêmio são luiz gauchão técnico caio júnior (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)Caio Júnior, atualmente no Vitória, acha difícil segurar o grito à beira do campo (Foto:Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

Caio Júnior, técnico do Vitória, sabe que os gritos são exagerados e até tenta deixar a conversa para o vestiário, mas nem sempre é possível.

- Existem momentos em que você tem que gritar porque é muito difícil o jogador ouvir dentro do campo em função da torcida - afirmou.

Com o grito, as cordas vocais vibram com muito mais força. Quanto maior a intensidade da fala, maiores os riscos, sobretudo se for um esforço repetitivo, como geralmente acontece com os treinadores. O otorrinolaringolotista Henri Ugadim Koishi explica como isso pode afetar a saúde.

- Se ele tiver uma lesão, uma inflamação ou um pequeno sangramento na corda vocal, o que pode acontecer com quem grita muito, e se com a corda vocal comprometida ele continuar fazendo esse esforço intenso, a lesão pode se agravar ou até tornar-se crônica. Muitas vezes é necessário um tratamento com medicação e até mesmo cirurgia, em alguns casos - explicou.

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