quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Retrospectiva São Paulo: a beira do caos e a afirmação sul americana

O pesadelo já passou, o sonho agora é bom. Após quatro anos mal dormidos, o torcedor do São Paulo voltou a abrir a janela para gritar "campeão" em 2012. A trajetória não foi tranquila, porém. O time iniciou desordenado a temporada e amargou duas sentidas eliminações antes de, com Ney Franco no segundo semestre, acordar para garantir vaga na Copa Libertadores e vencer a Sul-americana.

Compositor nas horas vagas - a música "Na beira do caos", que fala da passagem de uma "piração total" para o "firmamento", ganhou fama quando ele dirigia o Coritiba -, o treinador herdou de Emerson Leão um elenco que, até a metade do ano, havia caído na semifinal do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil e era vaiado pela torcida. No primeiro dia de trabalho, pediu para ser cobrado desde então.

A cobrança veio, de fato, pois a equipe demorou a mudar. A princípio, continuou desequilibrada e falhando defensivamente. Enquanto ia conhecendo melhor o que tinha à disposição, Ney Franco testava diversos esquemas táticos, todos sem sucesso. Até que uma formação com três atacantes (Lucas, Osvaldo e Luis Fabiano) e mais um volante marcador (Wellington) se encaixou e teve êxito nas duas competições restantes.

"Vários foram os fatores que fizeram com que a equipe se desenvolvesse. Além da volta do Wellington (recuperado de cirurgia), o deslocamento do Paulo Miranda para a lateral direita, o acerto defensivo... Isso nos deu condição de jogar com três atacantes. Mais do que isso tudo, o fundamental foi os jogadores entenderem a proposta de jogo", constatou o comandante.

Para um 2013 sem Lucas, negociado por 43 milhões de euros ao Paris-Saint Germain, a principal aposta para a Libertadores é Paulo Henrique Ganso, meia que foi contratado junto ao Santos após arrastada e polêmica negociação. Outro nome relevante será o pentacampeão Lúcio, zagueiro que assinou contrato de duas temporadas.

CAMPEONATO PAULISTA
A primeira competição do ano foi disputada sem Rogério Ceni. Camisa 1 e capitão, ele lesionou o ombro direito ao longo da pré-temporada e foi submetido a uma artroscopia. Seu substituto, Denis estreou com derrota, mas viu a equipe engatar uma boa sequência invicta e terminar a fase de classificação em segundo lugar, com só duas derrotas em 19 rodadas.

O adversário nas quartas de final foi o Bragantino. Apesar da vitória fácil por 4 a 1, no Morumbi, a comemoração não foi completa. Autor de dois gols, um deles de falta, Luis Fabiano deixou o campo irritado não apenas por ter desperdiçado cobrança de pênalti, mas por ter completado série de três cartões amarelos e não poder enfrentar o Santos na partida seguinte.

Sem seu melhor centroavante, Leão escalou Willian José na semifinal. Ele até balançou a rede uma vez, porém a defesa não conseguiu conter Neymar. A estrela santista marcou três gols e calou o Morumbi, com ajuda do zagueiro Paulo Miranda, que cometeu pênalti quando o placar estava em branco, e do goleiro Denis, que aceitou chute de fora da área no momento em que o São Paulo reagia e buscava o empate.

COPA DO BRASIL
O time até foi longe no torneio mata-mata. Depois de eliminar o Independente, do Pará, com a necessidade de disputar o segundo jogo, uma goleada diante do Bahia de Feira foi suficiente para a classificação direta para as oitavas de fina e enfrentar o primeiro difícil adversário, a Ponte Preta.

Pelas falhas na decisão do Paulista, Paulo Miranda caiu em desgraça e foi sacado da concentração desta partida por ordem da diretoria, a contragosto de Leão. O treinador só pôde voltar a utilizá-lo bem mais tarde, e o zagueiro perdeu cada vez mais espaço no grupo.

Mesmo sem o eleito vilão, o São Paulo foi derrotado em Campinas por 1 a 0 e precisava vencer a partida de volta por dois gols de diferença. Logo aos 12 minutos, a equipe interiorana abriu o placar do Morumbi. A queda parecia iminente, mas Casemiro e Lucas reanimaram as esperanças com gols a poucos minutos do intervalo. Na metade da segunda etapa, Luis Fabiano marcou o terceiro e evitou o vexame.

Nas quartas de final, uma vitória em casa e um empate como visitante bastaram para passar pelo Goiás e fazer a semifinal contra o Coritiba. Lucas garantiu o triunfo por 1 a 0, no Morumbi, mas tinha sido muito pouco: em Curitiba, o time paranaense fez um gol em cada tempo e deixou o São Paulo pelo caminho.

CAMPEONATO BRASILEIRO
Três dias depois da eliminação, o São Paulo visitou a Portuguesa, em jogo da sexta rodada do Brasileiro. O Canindé foi espaço para diversos protestos da torcida tricolor, que vaiou todos os titulares - Luis Fabiano foi chamado de pipoqueiro. Classificado como "sem vergonha" nos gritos que vinham da arquibancada, o time perdeu por 1 a 0 e deixou para trás também Leão, demitido.

Quem assumiu o posto interinamente foi o coordenador técnico Milton Cruz. Após duas boas vitórias, ele passou o cargo para Ney Franco, que deixava os times inferiores da Seleção Brasileira - nos quais conheceu são-paulinos como Lucas, Casemiro, Willian José e Bruno Uvini - para a pressão de um grande clube. Cenário que ele próprio enfatizou, em sua apresentação.

"Não é presunção, tem que me cobrar títulos. Estou aqui para ser cobrado, me cobrar e cobrar a comissão técnica e os atletas. Não vou chegar com discurso de que preciso de tempo, para esperarem até o ano que vem", disse o comandante recém-chegado, após assinar contrato até o final de 2013.

A estreia - sua e do zagueiro Rafael Toloi - foi frente ao Palmeiras. A equipe saiu em vantagem, porém não fazia um bom jogo. Tanto que, mesmo depois da expulsão do palmeirense Henrique, continuou sendo pressionada. Denis defendeu um pênalti cometido por Toloi e cobrado por Valdívia, só que uma falha defensiva coletiva após bola alçada na área terminou em gol de cabeça do baixinho Mazinho: 1 a 1.

Cobrado, como queria, Ney Franco levaria tempo para acertar o time, em especial no aspecto defensivo. Para isso, passou a ter ajuda de Rogério Ceni. Seis meses depois da cirurgia, o goleiro voltou em goleada sobre o Flamengo, a primeira de uma trinca animadora de vitórias. Em seguida, no entanto, veio uma trinca de derrotas, com alarmantes erros da defesa.

A experiência do capitão facilitou o acerto de posicionamento nos treinamentos de bola parada e dividiu a responsabilidade pela má fase da equipe. Veio então uma sequência de seis rodadas sem derrota e a estabilidade necessária para arriscar. O treinador voltou a dar chance a Paulo Miranda, mas como lateral direito improvisado, valeu-se da recuperação do volante Wellington e decidiu escalar três atacantes.

Com Lucas pela ponta direita, Osvaldo pela esquerda e Luis Fabiano centralizado, o São Paulo deslanchou na perseguição ao quarto colocado Vasco, que, por sua vez, entrava em queda livre. Seis vitórias e um empate finalmente o levaram na 29ª rodada para o G-4, de onde não saiu mais. Dada a distância da briga pelo título, a vaga para a Libertadores, depois de dois anos, foi um feito festejado.

Os jogos finais foram usados para dar chance a garotos da base e reservas, como Paulo Henrique Ganso. O meia, contratado em setembro junto ao Santos, chegou com uma lesão muscular e estreou somente na segunda quinzena de novembro. Sua melhor atuação foi justamente no encerramento do Brasileiro, quando deu duas assistências na virada por 3 a 1 sobre o Corinthians.

COPA SUL-AMERICANA
Historicamente desprezado pelos brasileiros, o torneio continental passou a ter importância recente pelo fato de dar ao campeão uma vaga na edição seguinte da Libertadores. Com o fracasso na Copa do Brasil e a dificuldade inicial de ficar entre os quatro primeiros no Brasileiro, a Sul-americana foi sendo valorizada cada vez mais pelo time no decorrer do segundo semestre.

A campanha começou duas vitórias fáceis sobre o Bahia, na fase nacional da competição. Nas oitavas de final, um oponente desconhecido, uma LDU também equatoriana, mas não de Quito, e sim de Loja, cidade à qual a delegação são-paulina chegou depois de quase 20 horas de viagem, incluindo ônibus e escalas de avião.

Um empate por 1 a 1 fora de casa dava a vantagem de seguir para as quartas de final com 0 a 0 no Morumbi. E foi assim mesmo que os comandados de Ney Franco alcançaram a classificação. Em um jogo com arbitragem confusa, que deixou de assinalar pênaltis e muitas faltas, o placar em branco assegurou a passagem de fase.

Mesmo com a classificação, uma polêmica ameaçou conturbar o ambiente do elenco. No segundo tempo da partida, Rogério Ceni pediu a Ney Franco que colocasse Cícero em campo para ajudar na bola aérea. O treinador não só optou por Willian José como criticou a tentativa do goleiro de interferir na substituição. No dia seguinte, reuniu o grupo e disse que não aceitaria ingerências no trabalho.

O capitão se disse surpreso com a repercussão do episódio, acertou-se com o treinador e viu Willian José, atacante muito criticado pela torcida, resolver a partida de ida contra a Universidad de Chile, nas quartas. Sem Luis Fabiano, mais uma vez desfalque por lesão, o jovem anotou os dois gols da vitória por 2 a 0, a qual encaminhou a ida para a semifinal do torneio.

Antes do segundo jogo - disputado no Pacaembu em virtude da realização de um show no Morumbi -, o discurso era de respeito à equipe chilena, campeã da edição passada da Sul-americana. Quando a bola rolou, o time tricolor passeou em campo e venceu por 5 a 0, credenciando-se ainda mais como grande favorito ao título, na medida em que os demais brasileiros já haviam caído.

Na sequência, outro adversário chileno. Menos badalada do que La U, a Universidad Católica acabou sendo mais difícil, e o São Paulo se classificou para a decisão aos mesmos moldes de quando enfrentou a LDU de Loja, com 1 a 1 na ida e apertado 0 a 0 na volta. À essa altura, a vaga para a Libertadores já estava garantida através do Brasileiro, e todas as forças se voltaram para o torneio.

O rival da decisão foi o Tigre, um clube argentino centenário, mas de pouca expressão. Em La Bombonera - a casa do Boca Juniors foi o palco do primeiro duelo porque o estádio do clube não tinha a capacidade mínima de 40 mil lugares -, o favoritismo são-paulino não se confirmou. Luis Fabiano tentou revidar agressão do zagueiro Donatti, e ambos foram expulsos aos 13 minutos, contribuindo para um jogo de poucas chances e o empate sem gol.

Na grande final, no último jogo de Lucas com a camisa tricolor antes da ida para o PSG, o meia-atacante brilhou. Com um gol e uma assistência para Osvaldo, ele comandou a vitória parcial por 2 a 0 no primeiro tempo. Vitória que acabaria se tornando definitiva, pois, após briga com os seguranças do São Paulo no corredor dos vestiários, os jogadores do Tigre se recusaram a retornar a campo.

Após muita indecisão, o árbitro confirmou o fim da partida, e o time brasileiro foi decretado campeão, reafirmando-se no cenário sul-americano e findando jejum de quatro anos sem título - o último havia sido o brasileiro de 2008. Com a conquista, em 2013 a equipe disputará a Recopa Sul-americana, contra o Corinthians, e também a Copa Suruga, frente ao Kashima Antlers, no Japão.

ESTATÍSTICAS
Jogos: 78
Vitórias: 45
Empates: 16
Derrotas: 17
Gols Pró: 139
Gols Contra: 72
Saldo: +67

ARTILHEIROS
Luis Fabiano: 31 gols
Lucas: 16
Willian José: 15
Osvaldo: 11
Jadson: 10
Cícero: 9
Rhodolfo: 6
Maicon: 7
Fernandinho: 5
Ademilson: 4
Rogério Ceni: 4
Douglas: 3
Rafael Toloi: 3
Casemiro: 3
Cortez: 2
Paulo Miranda: 2
Denilson: 1
Wellington: 1
Edson Silva: 1
Contra: 5

CAMPEONATO PAULISTA
22/01 - Morumbi - São Paulo 4 x 0 Botafogo-SP (Rhodolfo, Cícero, Edson Silva e Márcio , Lucas e Willian José)
07/04 - Arena Barueri - São Paulo 2 x 0 Mogi Mirim (Casemiro e Fernandinho)
15/04 - Gilbertão - Linense 2 x 1 São Paulo (Rhodolfo)
21/04 - Morumbi - São Paulo 4 x 1 Bragantino (Fernandinho, Luis Fabiano e Osvaldo)
29/04 - Morumbi - São Paulo 1 x 3 Santos (Willian José)

COPA DO BRASIL
07/03 - Mangueirão - Independente-PA 0 x 1 São Paulo (Cícero)
14/03 - Morumbi - São Paulo 4 x 0 Independente-PA (Luis Fabiano , Maicon e Osvaldo)
02/05 - Moisés Lucarelli - Ponte Preta 1 x 0 São Paulo (Roger)
10/05 - Morumbi - São Paulo 3 x 1 Ponte Preta (Casemiro, Lucas e Luis Fabiano)
16/05 - Morumbi - São Paulo 2 x 0 Goiás (Luis Fabiano e Douglas)
23/05 - Serra Dourada - Goiás 2 x 2 São Paulo (Jadson e Cortez)
14/06 - Morumbi - São Paulo 1 x 0 Coritiba (Lucas)
20/06 - Couto Pereira - Coritiba 2 x 0 São Paulo

CAMPEONATO BRASILEIRO
20/05 - Engenhão - Botafogo 4 x 2 São Paulo (Jadson e Luis Fabiano)
27/05 - Morumbi - São Paulo 1 x 0 Bahia (Luis Fabiano)
06/06 - Beira Rio - Internacional 1 x 0 São Paulo
10/06 - Morumbi - São Paulo 1 x 0 Santos (Paulo Miranda)
17/06 - Morumbi - São Paulo 1 x 0 Atlético-MG (Luis Fabiano)
23/06 - Canindé - Portuguesa 1 x 0 São Paulo
30/06 - Independência - Cruzeiro 2 x 3 São Paulo (Luis Fabiano, Jadson e Lucas)
08/07 - Morumbi - São Paulo 3 x 1 Coritiba (Jadson, Maicon e Osvaldo)
15/07 - Arena Barueri - Palmeiras 1 x 1 São Paulo (Luis Fabiano)
18/07 - Morumbi - São Paulo 0 x 1 Vasco
22/07 - Orlando Scarpelli - Figueirense 0 x 2 São Paulo (Ademilson e Willian José)
25/07 - Serra Dourada - Atlético-GO 4 x 3 São Paulo (Ademilson, Jadson e Rafael Toloi)
29/07 - Morumbi - São Paulo 4 x 1 Flamengo (Maicon, Luis Fabiano )

COPA SUL-AMERICANA
01/08 - Pituaçu - Bahia 0 x 2 São Paulo (Rogério Ceni e Ademilson)
21/08 - Morumbi - São Paulo 2 x 0 Bahia (Willian José e Maicon)
26/09 - Reina del Cisne - LDU de Loja 1 x 1 São Paulo (Bermúdez , Lucas, Luis Fabiano, Rafael Toloi)
22/11 - San Carlos de Apoquindo - Universidad Católica 1 x 1 São Paulo (Rafael Toloi)
28/11 - Morumbi - São Paulo 0 x 0 Universidad Católica
05/12 - Bombonera - Tigre-ARG 0 x 0 São Paulo
12/12 - Morumbi - São Paulo 2 x 0 Tigre-ARG (Lucas e Osvaldo)