quinta-feira, 14 de março de 2013

Achei! Genro de Luxa, Fabiano remói Sydney-2000 e diz: 'Levaria Romário'

Fabiano, meia do XV de Piracicaba (Foto: Guto Marchiori)Fabiano recomeça carreira no interior paulista, mas
não esquece as Olimpíadas (Foto: Guto Marchiori)

Único país pentacampeão mundial, o Brasil não se conforma de nunca ter conquistado uma medalha de ouro olímpica. E não foi por falta de jogadores capacitados e times com potencial. Bebeto, Romário, Ronaldo, Taffarel, Rivaldo... A lista de craques que viajaram com a esperança de quebrar o tabu e voltaram criticados pelo “fracasso” é imensa. Uma derrota brasileira em Jogos Olímpicos pode manchar carreiras. É dessa sombra que um remanescente da geração dos anos 2000 jamais conseguiu se livrar.

Revelado nas categorias de base do São Paulo e com passagens por Internacional, Santos e Atlético-MG, Fabiano Pereira da Costa era o camisa 8 da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Sydney. Estava longe de ser estrela de um grupo liderado por Alex e Ronaldinho Gaúcho. Mesmo assim, era titular absoluto. Foi um dos destaques do Pré-Olímpico e desembarcou na Austrália para buscar o sonhado ouro. O tombo, após derrota para nove camaroneses na prorrogação das quartas de final, ainda não saiu da cabeça do hoje veterano de 34 anos, que hoje atua no XV de Novembro de Piracicaba.

– Criou-se uma expectativa muito grande por aquilo que fizemos no Pré-Olímpico, que era aquela geração que traria o inédito ouro olímpico, até hoje ainda um sonho. Tínhamos bons jogadores no grupo e superamos a Argentina, com Riquelme, Aimar, Saviola e Samuel, que depois tiveram renome muito grande no cenário. Eram seleções boas, mas a gente criou uma boa expectativa. E nas Olimpíadas foi tudo ao contrário.

fabio aurelio brasil x camarões olimpiadas 2000 (Foto: Agência Estado)Africanos batem o Brasil, que atuou com dois a mais: Fábio Aurélio não se conforma (Foto: Agência Estado)

Quase 13 anos depois da derrota mais doída da carreira, Fabiano recorda algumas situações que poderiam ter facilitado a caminhada brasileira rumo à inédita medalha olímpica. Entre elas, está a dúvida que todos os técnicos já tiveram: manter a base de jogadores abaixo de 23 anos ou convocar três mais experientes, como permite o regulamento. Em 2000, Vanderlei Luxemburgo esnobou os veteranos. Hoje, Fabiano diz que faria diferente do sogro.

– Na época, o Vanderlei priorizou não levar os jogadores acima de 23 anos. Ele viu que a equipe tinha qualidade, mas acabou criando uma situação. Os jogadores acima de 23 anos queriam ir, entre eles o Romário. Houve um clamor muito grande. Pensando hoje, se eu pudesse voltar no tempo, teria levado os três acima da idade. O Chile acabou levando o Zamorano (artilheiro do torneio, com seis gols, e ajudou na conquista da medalha de bronze) e isso fez uma diferença muito grande. Eu levaria não apenas o Romário, mas também o Ronaldo (que, por estar machucado, não poderia atuar nos Jogos Olímpicos) e o Roberto Carlos – opinou.

Antes de qualquer polêmica, o meia procura explicar que entende o critério de Luxa..

romario ronaldo brasil (Foto: Agência Getty Images)Romário e Ronaldo pela Seleção em 1997: dupla estaria na lista de Fabiano (Foto: Agência Getty Images)

– O Vanderlei ficou precavido de levar um jogador mais experiente no grupo, pois nós éramos jovens. Ele ficou com receio de como seria a cobrança deste cara. Manteve a base e não deu certo, mas também aconteceu isso com outras seleções. Basta ver o que houve em 2012, num time com Neymar e Lucas, mas que perdeu para o México. Tudo se encaminha. Quando se diminuir essa cobrança, o peso será menor, e o Brasil vai conquistar o ouro – disse o jogador.

A marca da derrota em Sydney fez com que Fabiano tivesse dificuldades em se firmar nos clubes brasileiros que defendeu. Deixou o São Paulo em 2001 e rodou por Portuguesa (2001), Internacional (2001-2002), Santos (2002-2003, quando virou até centroavante nas mãos de Emerson Leão), Atlético-MG (2009-2010), Sport (2009), Avaí (2011) e Audax (2012). Ainda teve experiências na Espanha, pelo Albacete, e no futebol mexicano, com as camisas de Necaxa, América e Puebla. Seu novo desafio é o XV de Piracicaba. Recuperado de uma lesão na costela após 50 dias de tratamento, ele estreou pelo Nhô Quim na derrota por 3 a 0 para o Oeste, na última sexta-feira, pela 11ª rodada do Campeonato Paulista.

Luxemburgo na partida do Grêmio contra o LDU (Foto: EFE)Luxemburgo tem uma relação bem próxima com
Fabiano e dá conselhos ao meia (Foto: EFE)

‘Sogrão’, Luxa é conselheiro

Há 15 anos, Fabiano iniciou o relacionamento com Vanessa – segunda filha de Luxa, hoje treinador do Grêmio –, com quem tem uma herdeira, Vitória. Então no São Paulo, onde se profissionalizou e ganhou destaque, o meia se casou no início de 2001 e teve como padrinhos o ex-volante Axel (com quem atuou no Morumbi), o meia Alex (atualmente no Coritiba e seu parceiro na Seleção de 2000) e o atacante Dodô (outro ex-São Paulo e que hoje defende o Grêmio Osasco). Apesar de ter atuado em grande nível em clubes de renome, o meia é mais lembrado como "o genro de Luxa".

– Eu não me incomodo com a situação. Tem muitas pessoas que me encontram e perguntam do Vanderlei. Você acaba criando um vínculo com isso. Pessoas me encontram com minha esposa em restaurantes e perguntam: "Ela que é a filha do Luxemburgo?". Daí, eu respondo: "É, Vanessa, se eu estivesse fazendo coisa errada, você saberia" (risos). As pessoas têm curiosidade. Eu entendo essa situação de forma natural e não vejo nenhum problema com essa comparação.

No sogro, Fabiano encontrou também uma espécie de conselheiro. Em 2012, com poucas propostas, o meia conversou com Luxemburgo sobre o que pretendia da carreira. A vontade de voltar a estudar e terminar o ensino médio foi apoiada pelo treinador, que alertou para a necessidade de se dedicar ao máximo para descobrir o que fazer após a carreira.

– No ano passado, quando estava nesta indefinição, com as propostas diminuindo, falei com Vanderlei e ele me orientou. Disse para eu voltar a estudar e me preparar para entrar no mercado. "Não entre no mercado para ser mais um, pois tem vários assim", ele falou. Dentro desses conselhos eu optei em voltar a estudar – afirmou.

Aposentadoria planejada e convite do amigo Gallo

Ciente de que o final de carreira está próximo, Fabiano faz planos para não ser pego de surpresa. Seguindo os conselhos de Luxemburgo, o meia aprimorou seu conhecimento com cursos de gestão esportiva e também de treinador. Ele quer evitar chegar à aposentadoria sem saber qual caminho seguir. Por isso, se prepara para o final, ainda sem saber quanto tempo vai demorar para pendurar as chuteiras.

Alexandre Gallo seleção brasileira (Foto: Divulgação / CBF)Alexandre Gallo (à direita) fez convite para quando Fabiano encerrar a carreira (Foto: Divulgação / CBF)

– Eu sei que estou mais próximo do fim do que do início. Sempre tive um cuidado com o planejamento. Nos últimos seis meses fiz coisas que nunca tinha feito. Apareceram propostas que não me agradaram e resolvi estudar. Fiz um curso de gestão esportiva e de treinador. Não é parar e depois pensar no que fazer. Estou me preparando. Tem muitos jogadores que encerram a carreira e não sabem o que fazer – afirmou.

O curso de treinador feito por Fabiano já é de conhecimento de amigos que seguiram a carreira após a aposentadoria nos gramados. Um dos que souberam foi o treinador Alexandre Gallo. O ex-volante é o atual comandante das categorias de base da seleção brasileira e fez bom trabalho no Náutico, em 2012. Fabiano revelou que já recebeu um convite para trabalhar com o amigo.

- O Gallo é muito meu amigo. Jogamos juntos em 1998, pelo São Paulo. Daí ele falou pra mim: "Já sabe, quando parar, você já tem um estágio garantido." Nos clubes que eu joguei, tenho as portas abertas. Mas ainda não sei o que vou ser: treinador, gerente de futebol, empresário, pastor... – completou o meia, que, de olho no futuro, pode até não saber o que fazer, mas sabe que permanecerá sempre ligado ao mundo do futebol. Mesmo sem uma medalha de ouro pendurada no pescoço.

Fabiano, meia do XV de Piracicaba (Foto: Guto Marchiori)Currículo do veterano meia tem São Paulo, Internacional, Santos, Atlético-MG e Sport (Foto: Guto Marchiori)