Breno e seu advogado no julgamento em Munique
(Foto: Clicia Oliveira / Globoesporte.com)
Eram 9h da manhã de terça-feira, em Munique, na Alemanha, quando Breno chegou ao Tribunal de Justiça. Sempre demonstrando calma, o zagueiro do Bayern foi o tempo todo acompanhado por uma intérprete para entender o que era dito no julgamento sobre ter colocado fogo ou não na própria casa, em setembro do ano passado. Durante cinco horas, o atleta de 22 anos, revelado pelo São Paulo, sofreu marcação cerrada da juíza, ouviu acusação de sofrer com alcoolismo e viu a defesa de seu advogado, que alegou que o jogador não lembra de nada do dia do incêndio por causa do uso de medicamento para dormir dado pelo clube (versão negada por um dirigente).
O GLOBOESPORTE.COM acompanhou de perto um dia do julgamento que definirá a vida de Breno. As sessões acontecem às terças e quartas e devem ser finalizadas no próximo dia 17, mas é possível que a decisão da juíza saia antes. O contrato do zagueiro com o Bayern foi encerrado no último dia 30 e não foi renovado. Segundo informações da imprensa europeia, o Lazio, da Itália, surge como provável destino caso seja decretada a inocência do jogador no caso. Mas tudo vai depender da decisão da Justiça alemã. Nesta quarta, o promotor do caso afirmou querer que Breno seja condenado a cinco anos e seis meses de detenção.
Breno mantém calma, mas sofre com juíza 'linha dura'
No julgamento de terça-feira, o que se viu foi um Breno calmo, sentado ao lado de uma intérprete que traduzia para o português tudo o que era dito pelos presentes (um dos problemas de adaptação do zagueiro a Munique foi a dificuldade com o idioma). Fora dos gramados, Breno foi obrigado a sofrer a marcação cerrada da juíza Rozi Datzmann, daquelas com um alemão bem arrastado, cara de má e que não permitiu que ninguém se aproximasse do atleta e nem que tirasse fotos dela. Com três intervalos longos, o julgamento durou cerca de 5h.
No início, a juíza lê tudo que foi dito nas outras sessões até o momento. Com poucos jornalistas e alguns curiosos presentes, o julgamento de terça foi baseado no depoimento de um psiquiatra e de uma legista que fez exames toxicológicos em Breno, alguns dias depois do incêndio.
O médico Aachen Henning Sass afirmou que o zagueiro bebia regularmente e que no dia do incidente havia ingerido uma garrafa de uísque, cinco a 10 cervejas e vinho do Porto. Quando ficou detido, durante 13 dias, após o ocorrido, Breno recebeu a visita da legista Jutta Schopfer, que afirmou que o atleta tinha 2,5 ml de álcool no sangue, no dia do exame, mas que isso não seria motivo para não se lembrar de nada no dia do ocorrido. O zagueiro não teria respondido a nenhuma pergunta feita por Jutta e a única coisa que disse foi que não se lembrava de nada no dia do incêndio. A juíza então insistiu no assunto e várias perguntas foram feitas para a legista. Drogas não foram encontradas no sangue do brasileiro.
Breno é acompanhado por um intérprete durante todo o julgamento (Foto: Clicia Oliveira / Globoesporte.com)
Breno alega que usou isqueiros para acender cigarros
Em sua defesa, o advogado de Breno, Werner Leitner, afirmou que o jogador tomou um medicamento chamado "Stilnox", remédio forte para dormir, que não pode ser misturado com álcool, e por isso não se lembrava de nada que acontecera naquela noite do incêndio. Esse medicamento teria sido dado por um médico do Bayern de Munique.
Após prisão, Breno chegou a voltar a atuar pelo
Bayern (Foto: Reproduçã/Bild.de)
Um diretor esportivo do clube, que esteve presente no tribunal nesta quarta, afirmou que no clube não há remédios para dormir e que portanto nenhum medicamento teria sido dado ao jogador. Breno afirmou em seu depoimento que bebeu demais e fumou alguns cigarros também, por isso teria entregado três isqueiros para a polícia.
Para o jornalista Oliver Bendixen, que cobre o caso para a emissora "Bayerischer Rundfunk", a justiça alemã está certa em cobrar explicações detalhadas do zagueiro brasileiro.
- Normalmente eles dão de 10 a 15 dias para resolver um caso assim. A justiça está dando tempo, é um crime sério, não havia ninguém em casa, o que deixa mais evidências de que o incêndio foi proposital – disse Oliver.
O jornalista afirmou ainda que Breno pode pegar de três a quatro anos de prisão e que teria que cumprir a pena na Alemanha mesmo. Caso seja condenado a dois anos, o jogador não irá para a cadeia: terá que fazer trabalhos sociais e não se envolver em nenhum tipo de confusão.
- Ainda se ele pegar três ou quatro anos terá revisão do processo, talvez a juíza dê dois anos. Pode haver algum acordo também, como pagar o valor da casa incendiada (cerca de € 1 milhão, ou R$ 2,5 milhões).
Vizinho critica zagueiro: 'No Brasil, acaba tudo em pizza'
Vizinho de Breno no bairro de Grunwald, onde a casa pegou fogo, Klaus Popping criticou o jogador e afirmou que o pensamento do zagueiro estava no Brasil na hora do incidente.
- Ele deve ter achado que estava no Brasil e que nada iria acontecer. No Brasil, se a pessoa é rica, ela dá dinheiro e consegue tudo. No final acaba tudo em pizza. Aqui na Alemanha é mais sério e rígido. A justiça daqui não está levando em consideração que ele é famoso e jogador de futebol. Mas mesmo assim espero que ele receba apenas dois anos para não ter a vida destruída – afirmou o vizinho do bairro de Grunwald.
A esposa do jogador, Renata, não compareceu nenhum dia ao julgamento. Em uma das sessões, a juíza revelou gravações de conversas telefônicas de Renata com um amigo logo após o incidêndio, quando a brasileira teria dito que "satanás havia tomado conta do corpo de Breno" na hora do incidente.
Policiais que chegaram na casa de Breno durante o incêndio afirmaram que o jogador estava completamente fora de si, que corria pela casa e que gritava "schaise" ("merda" em alemão). Disse ainda que tudo na sua vida estava ruim e que a única coisa que conseguiu fazer foi salvar os cachorros.
Breno, que perdeu tudo no incêndio, inclusive os passaportes de toda a família, não pôde sair da Alemanha sequer para visitar parentes no Brasil. Na época do fogo, o zagueiro, a mulher e os filhos chegaram a ficar sem roupas, sapatos e objetos pessoais. A família foi ajudada pelo companheiro de clube, o lateral-direito Rafinha, que além de ter dado roupas, ainda os recebeu em casa logo após o incêndio. O ex-atleta do Coritiba chegou a afirmar que Breno era um “cara tranquilo até demais” e disse não entender o que teria acontecido. O zagueiro também teria ficado em depressão por não estar jogando (por problemas no joelho) e foi cogitada a hipótese de um incêndio proposital para o jogador receber o dinheiro do seguro da casa, já que na Alemanha, quando o atleta fica um tempo sem jogar, ele para de receber salários do clube e passa a ganhar uma espécie de seguro no valor de € 5 mil, cerca de R$ 12 mil. Depressão? Brigas com a esposa? Alcoolismo? O futuro de Breno está nas mãos da juíza de cara fechada.
Bombeiros tentam apagar o fogo na casa de Breno, em setembro do ano passado (Foto: EFE)